O sistema usado nas eleições brasileiras permite ao eleitor três tipos de votos: válido, nulo e branco. O primeiro é o mais comum, em favor de um dos candidatos. Nas eleições em dois turnos, é a soma dos votos válidos que determina se alguém atingiu a maioria absoluta já na primeira votação, dispensando a segunda. O voto nulo é decorrente, em tese, de um erro do eleitor. Mas em nossa jovem democracia, virou sinônimo de protesto. O sujeito acaba votando nulo quanto rejeita todos os candidatos. Menos popular é o voto em branco, ainda que com direito até a tecla específica na urna eletrônica. Para efeito de apuração, é idêntico ao nulo, mas difere na mensagem deixada pelo eleitor. Ao contrário do nulo, o voto em branco não deixa dúvidas de que foi resultado de uma intenção deliberada. É ali que o eleitor deveria pressionar para dizer não a todos os concorrentes. Mas esse tipo de voto acabou vítima de um preconceito com origem na época da cédula eleitoral de papel. Votar em branco era então pouco recomendável, por facilitar a fraude. E a cultura do nulo acabou se impondo.
O voto em branco (ou nulo) é portanto uma alternativa prevista no próprio sistema eleitoral. Mas as vezes é caluniado, chamado de atentado à democracia, atitude reprovável, enquadrado em algum lugar entre a burrice e a preguiça de pensar. Esse chapéu serve bem ao voto irrefletido, aquele decidido por interesse mesquinho, por recomendação do pipoqueiro ou cara-e-coroa. O voto irrefletido pode ser tranqüilamente xingado de irresponsável, sem risco de remorso. Mas não é possível identificá-lo na apuração da Justiça Eleitoral. Matreiro, costuma se esconder no meio dos votos válidos, tanto quanto dos nulos e em branco. Está em todos os lugares onde se encontra também seu oposto, o voto responsável, que igualmente pode referendar um candidato ou marcar branco. E por que não? Se, depois de refletir seriamente, pesar os prós e contras, você decidir que nenhum dos candidatos merece seu voto, tasque branco, ora! O eleitor que faz isso está enviando uma mensagem tão clara quanto os que escolhem seus candidatos preferidos, além de abrir brechas futuras para o surgimento de alternativas. Nada mais democrático.
7.10.04
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