31.8.04

Lixo musical do bom!

Quem foi adolescente nos anos 80 vai gostar dessa. É o Trash 80's, saite de uma festa já tradicional em São Paulo, realizada às sextas e sábados, com o pior do pop dos anos 80. Mas o melhor é a seção TV/Rádio. Traz videoclipes que são verdadeiros achados arqueológicos. Faz viajar no tempo. Tem muita coisa que a gente gostava bastante na época, alguns anos depois passou a odiar e hoje morre de rir. Olha só (algumas músicas a gente não consegue lembrar pelo nome, mas reconhece imediatamente aos primeiros acordes): Lost in Love (Air Supply), Daddy Cool (Boney M), Automatic Lover (Dee Dee Jackson, um clipe absurdamente bizarro), Voyage, Voyage (Desireless), Der Komissar e Rock me Amadeus (Falco) e Betty Davies Eyes (Kim Carnes) são algumas das raridades. Há ainda dois clássicos da época: Billie Jean (Michael Jackson) e Purple Rain (Prince). É diversão garantida.

30.8.04

Rede Globo, 20 anos depois

No último domingo, saí com um grupo de amigos jornalistas que comemoravam dez anos de profissão, ou mais precisamente, de formatura no curso de jornalismo, já que geralmente o pessoal começa a trabalhar na área antes de concluir a graduação. Ninguém se arrepende, mas o sentimento geral é de que a profissão não atendeu ao que se esperava dela. Talvez porque jornalistas fazem parte de uma raça insatisfeita por natureza, mas o mercado não tem ajudado. Os salários nunca animaram muito. Nesta semana o grupo de mídia controlado pelo empresário Nelson Tanure (Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil e o saite Invest News) anunciou a demissão de cerca de 80 profissionais de redação, para reduzir custos. Isso num momento em que a economia do país se recupera e o desemprego começa a ceder. À caça de anúncios de qualquer jeito, as empresas de comunicação são cada vez mais promíscuas, procurando dar prioridade aos seus interesses comerciais e deixando de publicar o que o leitor precisa ou quer saber.

Há uma ironia histórica em relação a isso, no meu modo de ver. Há 20 anos, criticava-se muito a Rede Globo de Televisão por manipular a informação a seu bel-prazer, sustentada por um quase monopólio do mercado de comunicação. Basta lembrar o comício das diretas na Praça da Sé, em 1984, noticiado como uma comemoração do aniversário de São Paulo, ou a edição do último debate entre Fernando Collor e Lula, na eleição presidencial de 1989. Outras emissoras, com a Bandeirantes, eram vistas como mais "independentes". Hoje, a Globo parece ser o veículo capaz de proporcionar a informação mais confiável, justamente porque, com seu tamanho e saúde financeira, é uma das empresas mais protegidas contra interferências externas. As outras redes de TV desistiram de concorrer com a Globo e engalfinham-se entre si pelo resto do mercado, não hesitando em apelar. Os jornais estão quebrados, à procura de sócios estrangeiros ou empréstimos camaradas do BNDES. É muito mais fácil, para um anunciante ou um governo, pressionar um veículo nessa situação.

29.8.04

Enfim, ouro na quadra

A coluna de hoje do Tutty Vasques no site no mínimo traz a melhor e mais divertida análise que já li sobre o desempenho dos atletas brasileiros nas Olimpíadas de Atenas. Vale apena dar uma olhada. Acrescento algumas coisas. O Brasil acaba de levar o ouro no vôlei masculino, com 3 sets a 1 em cima da Itália, num jogo que acabou ganhando caráter de "lavagem da honra nacional" nesses jogos. O vôlei masculino do Brasil, que entrou nos eixos na era do treinador Bernardinho, vem fazendo boas campanhas há muito tempo, vencendo campeonatos mundiais e subindo no pódios nas últimas olimpíadas. O vôlei de praia masculino, é bom lembrar, também levou ouro da Grécia. Não seria a hora de deixar um pouco de lado o futebol e adotar o vôlei como esporte nacional? É mais barato contruir ginásios - com a vantagem ainda de serem multiuso - do que estádios de futebol. A relação com as universidades parece também mais fácil. O trabalho de equipe é ainda mais fundamental que no jogo com os pés. De certa forma, se pensarmos bem, já somos um país do vôlei. Só falta os clubes adquirirem uma identidade com as torcidas tão forte quanto no futebol.

28.8.04

Muçulmanos por aqui

Acabei de voltar de uma viagem de estudos a Lages, na serra catarinense, onde visitei um templo islâmico, a mesquita. O Islã é a religião que mais cresce hoje no mundo - já tem mais de 1,3 bilhão de adeptos - e conversando com os muçulmanos de Lages, acho que tive algumas pistas sobre as razões desse crescimento. É uma religião que tem suas regras, muitas vezes rígidas - como a proibição de bebidas alcoólicas - mas ao mesmo tempo dá um espaço de liberdade muito grande ao indivíduo. Não há, como entre os cristãos católicos, um clero que vigia o comportamento dos fiéis. Cada um resolve o problema com sua própria consciência. Não há confissão de pecados. O relacionamento é direto com Deus, sem a intermediação de padres ou figuras semelhantes. Em vez do dízimo cristão - um pagamento à instituição igreja - eles destinam uma esmola diretamente a quem precise de auxílio. Os templos são despojados e os rituais simples. Não há missas. Uma vez por semana a comunidade se reúne, para rezar e falar tanto de religião quanto dos problemas do cotidiano. As mesquitas são abertas a não muçulmanos - desde que comportem-se com respeito - e não há proselitismo. Eles preferem conquistar almas com o exemplo do que com a pregação.

Imigrantes libaneses instalaram-se em Lages na década de 1950, numa época em que a indústria madeireira impulsionava a economia da região. A comunidade islâmica local chegou a contar cem famílias. Depois que as matas de araucária sumiram e as madeireiras começaram a fechar, muitos saíram da cidade e hoje o grupo está reduzido 50 famílias. Em 1980, eles conseguiram um terreno da prefeitura para a construção da primeira mesquita de Santa Catarina - atualmente são duas no Estado, a outra em Criciúma. A construção do templo foi concluída em 1986. É um edifício simples, ao mesmo tempo despojado e aconchegante. Conta com um salão amplo, dotado de uma abóbada para garantir uma boa acústica, onde são feitas as orações comunitárias. Alí é preciso tirar os sapatos para entrar, em sinal de respeito e pureza. O prédio também conta com o tradicional minarete, uma torre típica das mesquitas, antigamente utilizada para que, lá do alto, alguém chamasse a comunidade à oração. Há ainda uma espécie de capela mortuária, onde os mortos são velados. O cemitério municipal tem um setor islâmico, onde os corpos são enterrados sem caixão, apenas envoltos numa mortalha, e não há túmulos. O enterro islâmico é bem mais barato que o cristão.

27.8.04

Guerra, engenharia e história

A revista Nossa História, publicada pela Biblioteca Nacional, traz na edição de agosto uma matéria sobre a Guerra do Contestado, uma das últimas e maiores revoltas civis em território brasileiro, entre 1912 e 1916, mas pouco conhecida fora de Santa Catarina - e de certa forma, mesmo por aqui. O conflito ocorreu na região serrana do interior do Estado e levou a formação de pelo menos uma dezena de povoados rebeldes. A sedição em massa foi debelada pelo Exército com o auxílio de aviões, usados então pela primeira vez no Brasil como arma de guerra, depois de várias derrotas impostas às forças do governo pelos sertanejos. Estima-se que cerca de 10 mil pessoas tenham morrido no conflito. As características messiânicas da revolta, com a formação de "cidades santas", leva a comparação com Canudos, na Bahia, conflito ocorrido duas décadas antes e relatado no clássico Os Sertões, de Euclides da Cunha. O texto da revista é assinado pelo professor Paulo Pinheiro Machado, do Departamento de História da UFSC, autor do livro Lideranças do Contestado: a formação e a atuação das chefias caboclas (1912-1916), recém-lançado pela Editora da Unicamp.


Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, construída entre 1922 e 1926.

A mesma edição da revista dedica uma página para tratar da necessidade de recuperação da Ponte Hercílio Luz, obra orçada em R$ 120 milhões. Patrimônio histórico nacional, prodígio de engenharia para a época, a ponte pênsil metálica de 800 metros foi inaugurada em 1926 e interditada ao tráfego em 1982, quando ameaçava ruir, depois de meio século sem manutenção. Até 1976 foi o único acesso rodoviário à Ilha de Santa Catarina, onde fica a maior parte do município de Florianópolis, inclusive o centro e a sede do governo do Estado. Desde que foi interditada, a ponte vem passando por reparos para amenizar as marcas do tempo. O piso de asfalto foi substituído por grades de aço, para aliviar o peso. Originalmente preta, a estrutura metálica foi pintada de prata, para refletir a radiação solar e reduzir os efeitos da dilatação provocada pelo calor. O governo do Estado planeja recuperar a ponte e reabri-la ao tráfego, mas o problema é o mesmo de sempre: dinheiro.

26.8.04

Pesquisas, pesquisas...

Há algo estranho nas últimas pesquisas de intenção de voto para prefeito em Florianópolis. Os institutos Mapa (local) e Ibope (nacional) parecem chegar à mesma conclusão, mas na verdade apontam em direções opostas. Ambos apostam que, se a eleição fosse hoje, Dário Berger (PSDB) e Sérgio Grando (PPS) iriam ao segundo turno. Os outros dois candidatos com alguma chance, Chiquinho de Assis (PP) e Afrânio Boppré (PT) disputam o terceiro lugar. As posições de Grando, Chiquinho e Afrânio pouco mudaram em relação aos levantamentos anteriores divulgados pelos dois institutos, há cerca de um mês e meio. Mas é na evolução do primeiro colocado que está a divergência. Para o Mapa, Dário Berger cresceu sete pontos percentuais (de 27 para 34%), enquanto para o Ibope, o mesmo candidato caiu seis pontos (de 34 para 28%). Notem que os números quase coincidem, só que invertidos. Alguém errou.

25.8.04

Tô bem na foto?

Estou realmente me divertindo com esse negócio de publicar um blog. Aos poucos vou descobrindo alguns recursos da linguagem html e colocando umas coisinhas a mais no site. A última é a foto aí do lado. É um detalhe de uma imagem feita pela minha amiga Cris Fontinha em dezembro do ano passado, durante uma confraternização de fim de ano com os colegas de trabalho, num restaurante em Santo Antônio de Lisboa, aqui em Florianópolis. Na ocasião, incentivado por minha colega Sílvia Pinter e por uns copos de cerveja, topei pagar mico e me apresentar no karaokê do bar, com acompanhamento de um tecladista da casa. Creio que esse flagrante aí é um momento de "Garçom", do Reginaldo Rossi. Lembro que o show teve ainda Vando (Fogo e paixão) e Roberto Carlos (Quero que tudo vá pro inferno). Olha que bom gosto!

24.8.04

Ai que preguiça!

A idade é triste. A barriga vai crescendo, subir a ladeira para chegar em casa cansa como o diabo, você não tem mais saco para ficar a noite inteira em pé num show de rock, fica puto quando um adolescente faz barulho no apartamento de cima, essas coisas. Aí a mulher começa a pegar no seu pé, que você está muito mole, precisa fazer exercício e comer salada. Então você faz matrícula numa academia de natação, programa-se para entrar na piscina duas vezes por semana e comparece uma semana a cada dois meses. Mas você não desiste. Uma viagem de férias, provas na universidade, a mão enfaixada para proteger um corte costurado com quatro pontos, tudo fornece uma boa desculpa para escapar do esforço físico e passar uma hora a mais na cama. Mas quando você falta três meses seguidos e continua pagando a academia, a coisa começa a ficar improdutiva. Amanhã é dia de acordar cedo, afinal. Acabaram-se as desculpas.

23.8.04

Qualidade de vida

Já decidi, voto no candidato a prefeito que se comprometer a promover uma intensa campanha de mídia nacional detratando a imagem da cidade. Dá para parar com esse negócio de ficar anunciando aos quatro ventos que aqui tem qualidade de vida, que tem emprego, que as mulheres são mais gostosas e o escambau? A cidade continua inchando e importando problemas de tudo quanto é lugar por aí. Todo fim de semana tem alguém assassinado no meio da rua. Não é apenas nas favelas, mas no centro da cidade, nem no anonimato da madrugada, mas às duas da tarde. Nos morros da Ilha e nas área pobres do continente, já tem traficante expulsando gente de casa - e não é de hoje. O abastecimento de água está no limite, o investimento em esgoto não acompanha nem de longe o crescimento da cidade e os engarrafamentos na região da Lagoa não são mais um fenômeno apenas de alta temporada. Apesar disso tudo, em qualquer lugar do Brasil todo mundo quer vir para cá. Espalhem por aí, por favor: - Florianópolis é uma merda! Mandem esse povo todo para Porto Alegre!

22.8.04

Estranho esporte

Nunca fui muito fã de esportes, embora assista a algumas partidas da Seleção Brasileira de Futebol e já tenha - nos tempos de Nelson Piquet e Ayrton Senna - levantado cedo em vários domingos para ver as provas de Fórmula 1. Nada que chegasse a virar um vício, no entanto. Uma vez visitei uma amiga no Rio de Janeiro e fiquei impressionado - até um pouco chocado, diria - com a forma como aquele pessoal leva o futebol a sério. Desfazem amizades e rompem com parentes por causa de um jogo. Num curto período que morei em São Paulo, eram comuns notícias de torcedores baleados por estarem usando a camisa de seu time depois de um partida entre rivais locais. Claro que esses são exemplos negativos mas, o que parece ser inegável, é que o esporte é capaz de canalizar uma energia tremenda, mover paixões. Isso sempre me impressiona. O que faz as pessoas torcerem e se interessarem tanto por uma ginasta ou um atleta de salto triplo que representam seu país nas Olimpíadas, quando sequer entendem as regras desses esportes? O que desperta sentimentos nacionais de simpatia e até adoração por atletas que há um mês eram completos desconhecidos? No Brasil, parece que só o esporte tem força suficiente para unir pessoas de forma tão rápida. Mas também serve para separá-las.

21.8.04

Outra Bobagera

Resolvi fazer uma pequena mudança no nome do blog. Eliminei a letra "i" e agora o site chama-se Bobagera. A frescura tem motivo: há outro blog, mais antigo, com nome idêntico ao anterior, e ninguém aqui quer confusão. Por essa mesma razão, o endereço web (que permanece o mesmo) já era escrito sem o "i"(bobagera.blogspot.com). Assim, a mudança também adequa o título ao endereço do blog.

De qualquer modo, bobagera (com ou sem i) não aparece no Aurélio, o que lhe dá uma certa condição de palavra marginal em nosso idioma. O verbete aureliano mais próximo é bobajada, definida como "chorrilho de bobagens ou bobices", ou simplesmente "grande bobagem". Para quem não sabe o que é chorrilho... Ah! Vai procurar no dicionário, ô deitado!

20.8.04

Sunitas e Xiitas

Já que a Alice comentou no último post que o Bobageira também é cultura, agora agüenta. Quem assiste aos noticiários de TV sobre o conflito no Iraque ouve falar o tempo todo de xiitas e sunitas, mas pouca gente entende o que é isso. Os xiitas são uma espécie de protestantes do Islã - forçando um pouco - se a gente comparar os sunitas aos cristãos católicos. Maomé fundou a religião islâmica em 622 e morreu dez anos depois, sem deixar nenhum filho homem nem instruções claras sobre quem seria seu sucessor. Parte de seus seguidores queria que o novo califa (líder da comunidade muçulmana) pertencesse à família do profeta. Nesse caso, o candidato natural seria Ali Ibn Abi Talib, casado com a filha de Maomé, Fátima. Outro grupo, que acabou prevalecendo, entendeu que qualquer fiel poderia ser o novo califa, desde que aceito pela comunidade.

Sucederam-se quatro califas até que Ali, o genro de Maomé, assumiu o posto, em 656. O Império Muçulmano já havia crescido muito em tamanho e riqueza e as divisões políticas levaram a uma guerra civil. O líder Ali acabou assassinado em 661. Seus partidários passaram a contestar a legitimidade dos califas desde então e formaram a facção (shi'a, em árabe) de Ali, origem dos xiitas. O grupo que assumiu o poder intitulou-se defensor da tradição (sunna), de onde vêm os sunitas. Hoje, há países sob controle xiita, como o Irã, e sunita, como a Arábia Saudita. Mas na maioria dos países muçulmanos, como o Iraque, as duas facções são numerosas, opõe-se politicamente e mantêm formas um pouco diferentes de viver o Islã. No Iraque de Sadam Hussein, os sunitas estavam no poder, embora a população seja de maioria xiita. Curiosamente, são hoje os xiitas, oprimidos nos tempos de Sadam, a principal força de resistência contra as tropas de ocupação lideradas pelos EUA.

19.8.04

Lei de Murphy

Para quem está de mau humor, precisando relaxar, recomendo assistir ao horário eleitoral gratuito, no espaço dos candidatos a vereador. Verdade! É o programa mais divertido da TV, o maior desfile de gente sem noção por segundo. Tá certo que pode ser trágico, quando você pensa que vai ter que escolher seu representante entre esses caras, mas há sempre um ou dois que dá para encarar. Na verdade trata-se de gente muito corajosa. Não temem o ridículo. Há quem cante uma musiquinha de campanha, largue bordões trocadilhescos ou fique congelado lendo um texto, quando claramente só os olhinhos se mexem de um lado para outro. Mas aqui em Florianópolis, um candidato passou de todos os limites. Ele se apresenta como Murphy. Isso mesmo, Murphy. Imagine esse cidadão eleito, fazendo leis. É a própria piada pronta.

Mas quem é o verdadeiro Murphy?

De acordo com o site Murphologia, o capitão Edward A. Murphy, Jr. foi um dos engenheiros envolvidos nos experimentos de veículos com foguetes propulsores correndo em trilho único, realizados pela Força Aérea dos Estados Unidos em 1949 para testar a tolerância humana à aceleração. Um dos experimentos envolvia um conjunto de 16 medidores colocados em diferentes partes do corpo humano. Havia duas maneiras de colocar os sensores, e um técnico instalou todos os 16 da maneira errada. Irritado com o auxiliar trapalhão, Murphy teria dito: "se houver uma maneira de fazer a coisa errada, ele faz!". George E. Nichols, uma das testemunhas do desabafo, imediatamente apelidou a frase de "Lei de Murphy". Algum tempo depois, o episódio foi citado pelo Major John Paul Stapp, numa conferência à imprensa para apresentar os resultados do projeto. Stapp disse que a crença da equipe na Lei de Murphy foi fundamental para o sucesso do trabalho, já que todos se esforçavam para evitar falhas. Nichols contou essa versão da história em carta ao autor do livro "A Lei de Murphy e outros motivos por que tudo dá errado", Arthur Bloch.

18.8.04

Comentários

Graças a uma dica do amigo Giancarlo Proença consegui corrigir um problema do blog, que dificultava o envio de comentários. A configuração original do Blogspot permite que os posts sejam comentados apenas por usuários cadastrados no Blogger, a menos que assinem como anônimos. O dispositivo foi alterado e agora não é preciso passar por aquela página chata que pede nome do usuário e senha. Como a maioria dos blogs, o link "comments" abaixo de cada post abre uma janelinha que permite escrever o comentário sem complicação. Agora não tem desculpa, pessoal, escrevam aí.

17.8.04

Estados Unidos

Acredito que é preciso conhecer algo para que se possa criticá-lo ou elogiá-lo. Mas parece que muita gente rejeita o conhecimento sobre um determinado assunto por medo de identificar-se com ele. Explico. No curso de História da UFSC, há uma pressão para que se inclua no currículo uma disciplina sobre a História da África. Justo. Não se pode compreender a história do Brasil, especialmente no período colonial, sem entender a África. No início do ano foi implementada uma disciplina que dá conta do recado, embora optativa. Também é fundamental, para entender a nossa época, conhecer a história dos Estados Unidos. Mas nesse caso ninguém briga pela implantação de uma disciplina sobre o assunto. Talvez porque, num ambiente esquerdista, tal reivindicação soaria como defesa do imperialismo americano. E aí os professores que vão para as escolas sabem da história dos Estados Unidos apenas o que viram nos filmes americanos. Depois reclamam de colonialismo.

16.8.04

Pobres alunos

Depois que comecei a fazer o curso de História na UFSC, que forma essencialmente professores (já que quase ninguém nesse país se pode dar ao luxo de ser exclusivamente historiador), comecei a me interessar mais por Educação. E acho que descobri porque ela é tão ruim no Brasil, em que pese algumas melhoras na última década. A culpa é do pessoal que trabalha com Educação na universidade, formando os coitados dos professores. Ô gente ruim!Pegando todo o pessoal que ensina e pesquisa Didática, espremendo bem, acho que não sobra um que valha a pena. Por isso o professor tem que aprender tudo - exceto o conteúdo do que ensina - na sala de aula. A disciplina que faço nesse semestre, de Psicologia da Educação, é de chorar. Não tenho mais paciência para professor incompetente e enrolador.

Don Enrique

Encontrei uma figura muito curiosa quando estive em Buenos Aires, na semana passada. Trata-se de um taxista que apresenta-se como "Don Enrique". Descendente de bascos, é filho de pai portenho e mãe de Santa Fé, no interior argentino. Nascido em Buenos Aires e trabalhando há 30 anos nas ruas, conhece tudo da cidade e fala pelos cotovelos. Diz que fez muitos amigos brasileiros - que o chamam de "Riquinho" -, escreve poesias e recita algumas delas para os passageiros. E são boas, sempre falando sobre as ruas, os amores e personagens que correm nas artérias da cidade. Carrega dezenas de folders e material com informações turísticas no táxi, ao alcance da mão, e está sempre pronto a responder qualquer dúvida ou dar boas dicas de programas. Um figuraço. O cartão que ele distribui aos passageiros - sempre novos amigos - traz escrito: "Optimo servicio. Experiencia. Don Enrique. Su guia y Colaborador en Buenos Aires. City Tours - Tango - Airport - Tours de Compras", acompanhado do número da licença, telefones e e-mail. Traz ainda o desenho de um carro que mais parece uma limusine. Riquinho nos fez companhia por não mais que 15 minutos, numa viagem de táxi entre Puerto Madero e uma estação de trem. Mas foi o programa mais divertido de Buenos Aires.

Santo Maradona

Os portenhos têm três paixões, como eles mesmo gostam de dizer: o churrasco (asado), o tango e o futebol. Durante a visita a Buenos Aires, pude conhecer um dos templos argentinos da bola. Ou, mais propriamente. o lugar de veneração a um santo local: Maradona. Há até um museu dedicado ao ídolo. O Estádio do Boca Júnior, no bairro La Boca, não é o maior da cidade. Conhecido como La Bombonera (caixa de bombons), por sua forma retangular, tem capacidade para 50 mil espectadores, contra quase 80 mil do River Plate, o clube rival localizado na zona mais rica de Buenos Aires, do outro lado da cidade. Tive a forte impressão de que é mentira, mas eles contaram uma historinha curiosa sobre o Boca Júnior. No início, o time usava um uniforme preto e branco, as mesmas cores da camisa de outro clube localizado no mesmo bairro. Para decidir quem mudaria a cor do uniforme, as duas equipes marcaram um jogo. Aquele que perdesse, adotaria as cores da bandeira do primeiro navio que atracasse no porto. O Boca Júnior perdeu. Os dois times foram ao porto e encontraram um navio sueco. A partir daí, a equipe teria adotado as cores atuais, azul e amarelo. La Boca, em contraste com os elegantes arredores do River Plate, é um bairro decadente, ligado a uma zona portuária (o nome se deve à embocadura do Riachuelo, que ali deságua no Rio da Prata e estabelece um dos limites da cidade). É um lugar onde não se recomenda sair à noite. Antigamente se fixaram ali imigrantes italianos, que viviam em pequenos cortiços feitos de lâminas de zincos, pintados de várias cores diferentes com tintas recolhidas de sobras das reformas dos navios. Hoje, uma das ruas foi transformada em atração turística, com reconstituição das casinhas coloridas, lojinhas e feiras de artesanato. El Caminito (a rua foi batizada com o nome de um tango) parece uma pequena ilha enfeitada num lago de sujeira e pobreza.

Transporte portenho

Na última nota falei que Buenos Aires teve o primeiro metrô da América do Sul (1913). Acho que um dos três originais ainda está por lá. Ô tranqueira velha! Seria muito bonito se estivesse bem conservado e adaptado em alguns ítens de segurança. Estávamos eu, a Cléia, minha cunhada Clésia e o marido dela, Doni, num dos vagões do Subte, reparando que a lata velha - na verdade em grande parte feita de madeira, inclusive os bancos e janelas - sequer tinha um sistema de travamento de portas, que não se fechavam automaticamente e podiam ser abertas com o trem em movimento. Uma argentina, que observou nossa estranheza, apressou-se em nos dizer que aquele era um caso excepcional: - Es una verguenza para nuestro país! Verificamos depois que aquele situação realmente não era comum. Os outros três eram mais novos, e com mais segurança, embora houvesse algumas situações intermediárias. O metrô de Buenos Aires tem cinco linhas, que cobrem a cidade de maneira limitada. Os ônibus são velhos, mas os táxis numerosos e baratos. Há também três que complementam o sistema de transporte urbano e acabam funcionando como extensão do metrô. Há ainda uma linha de Buquebus, barco rápido de passageiros que faz a ligação com Montevidéo atravessando o Rio da Prata, o mais largo do mundo, como eles gostam de lembrar. A Avenida 9 de Julho, também é considerada a mais larga do mundo, com seus 144 metros. É na verdade formada por várias avenidas paralelas, separadas por largos canteiros e calçadas.

Buenos Aires

Passei cinco dias em Buenos Aires. A má-fama dos portenhos, que por extensão acaba atingindo todos os argentinos, não é birra apenas brasileira. Nos outros países sul-americanos e até na Europa eles também têm a pecha de arrogantes. Mas essa auto-imagem de uma ilha européia no continente tem lá suas raízes históricas. Na primeira metade do século XX, a Argentina era um país rico. Frigoríficos ingleses lá se instalaram e os pecuaristas fizeram fortuna, graças a exportação de carne. Até que a concorrência autraliana acabou com a festa. Buenos Aires teve o primeiro metrô da América do Sul (1913). Altamente europeizada, a cidade era considerada, sem demasiado exagero, a Paris sul-americana. Enquanto isso o Rio de Janeiro, então capital brasileira, fazia uma drástica reforma urbana (o bota-abaixo) para apagar os feitos vestígios coloniais, enfrentava convulsões sociais, favelização, surtos de febre amarela e da gripe espanhola. Os portenhos orgulham-se desse passado opulento e mantém a pose apesar das crises econômicas. Fomos ver in loco o quanto a cidade ainda mantém desse brilho.